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JOSÉ GALINHA | O BARBEIRO
José Galinha, o barbeiro
em exposição no Solmar Avenida Center, entre 4 e 21 de agosto de 2016
José António Carvalho Roque é poeta, marceneiro e barbeiro com 75 anos de atividade. Nascido a 7 de março de 1930, cedo a vida lhe mostrou que queria era trabalhar. Com 10 anos, encaminhado pela sua professora, deixou de decorar os textos da escola e começou a tesourar com o seu tio numa barbearia em Santa Clara. O apelido “Galinha” cresceu das barbas de seu pai, e aos 16 anos montou o seu próprio estabelecimento nos Arrifes, uns metros ao lado da atual localização. Terminada a Segunda Guerra Mundial, estávamos em 1946, e o Benfica contava com 6 campeonatos nacionais, 3 campeonatos de Portugal e 3 Taças de Portugal. Talvez por esse motivo tenha denominado o seu espaço de “Barbearia Benfica”, numa altura em que o corte da barba se fazia por 1$00, o cabelo por 2$00, e cabelo e barba por 2$50.
Como na época o negócio dava pouco, ao som do seu rádio ousou explorar outros negócios e começou a vender no seu estabelecimento produtos como brilhantina, pentes vidrados, chuchas, livros ou galochas. Qualquer coisa que ajudasse a governar a sua vida!
“Cabelo bem cortado;
tem o seu regularmente;
deve vir bem lavado;
e o dinheiro juntamente”…
..lê-se ao espelho dos incontáveis lavradores e homens de barba rija que por aqui passaram durante os últimos 75 anos. Ao longo das suas 86 primaveras, além de barbeiro teve a oportunidade de criar gloriosas quadras, construir belos ornamentos de madeira e colecionar objetos e fotografias da freguesia. “Nunca desprezei a minha vida por causa do Benfica”, remata. A receita da sua longevidade baseia-se em dois fiéis amigos: Trabalho e família. Alerta‑me de imediato que “devem ser dois amigos, nunca três”. “O terceiro amigo, o café, conduz aos vícios, e isso não pode ser”. É ainda entre conversas futebolísticas, cartas de amor e ao som da tesoura, que de sol a sol, todos os dias José Galinha ganha fulgor para abrir as portas do seu “Museu Barbearia Benfica”.
Do V. sincero admirador,
Carlos Brum Melo